sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Trinta e cinco anos

Tenho trinta e cinco anos! Mas ainda escuto conselhos dos mais velhos, pois me perco muito entre os desvarios da adolescência. Se no passado o conflito eram por coisas do coração, hoje os caminhos da terra são os mais tortuosos. (Putz! Realmente está ficando velho!).

Mas "deixa estar", já dizia o poeta! (Que poeta seu mané? Você sempre foi fissurado nos Beatles e nos Stones! Preferia gibis a antologias poéticas. Tudo bem, que é difícil suportar poetas medíocres!). A vida continua! Apesar de todo caos, apesar de tantas lágrimas! (A velhice não conforta os indignados! Conhecimento e vivência trazem mais indignação!).

Se antes lamentava a transcendência da juventude para maioridade, agora, enalteço meus cabelos brancos e meus dentes amarelos. Se antes buscava o ineditismo nas ações, hoje quero me perder no aracnídeo abraço do hábito! Se eu amava o frio e o outono, busco a quentura do verão e o frescor do início da primavera! (Mas e as estrelas da noite? Aqueles milhões de pontos figurantes na odisséia da criação?).

O filme passa. Já se passaram os 65 minutos iniciais. O herói já foi massacrado e o vilão está prestes a ser revelado. Assassínio de força! Sonhos emparedados em escritórios amarelos encravados em castelos de areia! (As próprias escolhas do passado! Thirty-five, old man!)
Rebobinar a fita... soa agradável, mas, pra quê? Já li que é melhor arrepender-se de coisas que não realizadas e que o excesso leva ao palácio da sabedoria? (Intelectualismo de aforismos? Apenas um tolo acredita somente na sabedoria dos provérbios!). Algum filósofo já deve ter escrito que é preciso buscar o horizonte com os olhos e que os morros são somente montanhas de pedra!

Tenho 35 anos... meus ídolos continuam os mesmos, apenas questiono seus motivos. Meus mártires continuam mortos... em momentos translúcidos espero a ressurreição desses ideais contidos! (Se o corpo morre, o mistério continua vivo! E por isso, é preciso ainda correr pelo deserto de pedra com a espada em punho!).

Have a nice day! Disse o desconhecido no elevador... (Pobre diabo! Desconhece os algozes do dia-a-dia! Malditas correntes da rotina. Devorando Prometeu todos os dias!). Olhares cinzas... cumprimentos vazios... imaginação limitada... desejos contidos... Passei da idade de ressuscitar! Já passaram dois anos...

Ainda assim, ainda acredito na bondade dos homens e no gigantismo ético dos animais. A cada ano passada, o ciclo se renova... adeus às amarguras desmedidas... como o deserto, temos que avançar aos poucos, como um vírus no amontoado de carnes podres do super-homem do ego. Tenho 35 anos e continuarei morto abaixo das nuvens. (Mas pelo menos hoje o sol brilha....).


Ivanei Salgado, 06 de fevereiro de 2009.