quarta-feira, 15 de agosto de 2007

POESIA

no tronco da árvore desfolhada
a coruja cinza fez um ninho
e a criança pueril retorcendo-se entre os galhos
alimenta os seus filhotes...

o falcão intocado de penugens marrons
com os olhos amarelos crava as garras
o pobre canto sofrido é ouvido
o jardim silencia com o uivo do cão

o choro distante de uma mãe perdida
se confunde com a alegria dos canários impassíveis
o fogo-fátuo do pântano lodoso
enfeita a tarde mortal no bosque de esculturas

a fonte dos querubins está seca
jaz por terra o arco e o violino
a donzela vestida de azul caminha descalço
procurando a carícia do jovem jardineiro desnudo
...que chora com os olhos furados
pelas setas de um cupido marmóreo
disparada pelo senhor dos páramos verdes
que sacrifica a inocência no altar de ouro...

pois
a coruja sem filhotes chora de viuvez e tristeza
vendo seu ninho vazio nas lágrimas da criança
não há mais árvore florida onde possa dormir
não há mais ninho macio onde possa sonhar
não há mais tempo para lucidez infecunda...

...a fonte já está seca e as árvores desfolhadas
as carpas vermelhas morreram sem o adeus de seu mestre
os pássaros coloridos voam para além da cerca abandonada
a donzela morre donzela nos afagos das mãos calejadas
de seu jovem jardineiro brônzeo pelo sol da tarde

...borbulha a água escura do pântano
e a coruja cinza morre de sede
suspirando uma última canção

o cão já está dormindo
os canários já se foram
e o senhor dos páramos verdes ceia sozinho
à luz tênue dos castiçais prateadosdisfarçando uma lágrima em um cálice de vinho...

Nenhum comentário: