terça-feira, 7 de agosto de 2007

TRINTA E TRÊS ANOS

Tenho 33 anos. A maioria deles mergulhados na depressão de dividir o mesmo mundo dos cegos. Não os cegos de visão, pois estes são felizes por não verem fealdade dos atos humanos. Mas aqueles cegos, que mesmo enxergando, se recusam a “ver”. Riem dos indignados. Aquietam o espírito dos aventureiros. Apagam o brilho nos olhos do revolucionário.

Mais triste que perder a vida é perder a razão de viver. Mas existe vida após os trinta? Ou é preciso comprá-la dos senhores do saber? Nos grandes palácios do capitalismo diversional vive a essência das velhas tabernas? Ó velho taverneiro desdentado, serás substituído por ninfas plásticas de sorrisos robóticos!

Há exatamente duas décadas, sofri meu primeiro enfarte. Meu coração parou nos lábios aveludados de uma criança senil. Se os poetas cantaram as belezas do mundo. Eu cantei a feiúra do homem. Seus desatinos e desvarios.

Há exatos 15 anos me perdi na penumbra da noite. Busquei aquilo que meus pais abominaram. “Seja honesto e constitua uma família”! Rechacei a inocência da mãe e o infortúnio do pai. Mergulhei nos cabelos perfumosos das meretrizes. Minhas manhãs de domingo são regadas a vômito e aspirinas. Persegui Zaratustra e dele arranquei os olhos. Do ermitão centenário sorvi a última gota de jovialidade.

Busquei a sabedoria na mesa do bar. E os meus bares prediletos são freqüentados por ladrões e assassinos. Por prostitutas e travestis. Nas madrugadas mais frias, eu bebo do vinho mais caro ao lado das mulheres mais baratas.

Fui parceiro do jogo. Se Thoreau foi preso por não pagar impostos, os governos deveriam ser destituídos por cobrá-los. Se os camponeses foram mortos por conspirar contra os reis, todos os reis e rainhas deveriam ter nascido estéreis. Sêmen vazio e útero infecundo. Adeus aos herdeiros bastardos! Louco é quem vê beleza na estática humanóide dos belos.

Dos primogênitos, invejo o fígado inchado pelo álcool. Dos mais jovens, invejo a precocidade das escolhas erradas. Dos idosos, invejo o sangue vertido pelas idéias de liberdade. Ah Mr. Zumbi, sua vontade de correr livre pelos prados imperiais é compartilhada pelos filhos da república. Os grilhões de hoje estão nas prateleiras dos supermercados e nas vitrines das lojas. A senzala foi trocada por gigantescas fábricas. O senhor feudal quase nunca aparece. O feitor usa terno e gravata e nariz de palhaço e, o tronco, aprisiona os sonhos.

Tenho trinta e três anos. A doença é o troféu de vitória. A solidão, as medalhas de prata. A face do belo de garoto de lábios finos, hoje é coberta por extensa barba. Os cabelos encaracolados, hoje estão abaixo dos ombros. Tenho trinta e três anos. A idade em que Cristo foi crucificado. Não me pareço em nada com ele, mas amo todas as Madalenas do mundo.
06/02/2007

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso aí Ivan, parabéns por estas linhas... Ainda vejo o velho Ivan, ou melhor, o jovem Ivan, nestas linhas ora sonhadoras, mas que amam a Terra...A Arte imita a vida ? Eis o suplício ! Prefiro... Cult e Cult... Salgado !

Grande abraço

Edgard